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De Vassouras a Brasília

Natural da charmosa cidade de Vassouras, no interior do Rio de Janeiro, o ministro Luis Roberto Barroso, do STF, tinha um sonho antes de decidir ingressar na área de Direito: compositor. “Eu adorava música. Sou da geração em que despontaram Chico Buarque, Caetano Veloso, Gonzaguinha. O meu problema é que eu não tinha grande talento musical. Tinha a pretensão de ser um letrista razoável, mas eu não era um virtuose na música.

“Sou de Vassouras, uma charmosa cidade do interior do Estado do Rio. Mudamos para Copacabana, na capital, porque meu pai passou no concurso para promotor de Justiça. Eu tinha 5 ou 6 anos quando chegamos ao Rio, mas só fui gostar da cidade no início da vida adulta. Durante toda a minha juventude eu ia regularmente para Vassouras. Passava os fins de semana lá. Tinha uma vida mais no interior do que na capital. Mas depois me tornei um ser totalmente urbano.

Eu queria ser compositor. Eu adorava música. Sou da geração em que despontaram Chico Buarque, Caetano Veloso, Gonzaguinha. O meu problema é que eu não tinha grande talento musical. Tinha a pretensão de ser um letrista razoável, mas eu não era um virtuose na música. Eu dependia de parceiros e tal. Essa dependência me afastou desse projeto de vida. Eu não sei se teria tido sucesso, mas eu gostava muito sim. Sempre gostei também de poesia. Em certa época, eu gostava de poesia engajada (risos). Thiago de Mello, Ferreira Goulart… Depois, a vida nos adoça um pouco e passei a gostar de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Helena Kolody, que é uma poetisa do Paraná. Gosto do Paulo Leminski e adoro Fernando Pessoa.

O Direito veio por acaso (risos). Na verdade, eu nunca tive muitas dúvidas. Sempre me identifiquei com o Direito. Talvez minha primeira grande identificação tenha sido com a política, mas não em termos de ser candidato, e sim, como uma pessoa que pensava o Brasil. O fato que me despertou para a política antes de eu entrar na faculdade foi a morte do jornalista Vladimir Herzog, em 1975. Aquele episódio acendeu a luz amarela de que havia um país fora do discurso oficial. Então eu comecei a prestar atenção nas notícias desse caso e a perceber que havia uma censura intensa à imprensa. Eu tinha 17 anos. Desde essa época eu me tornei uma pessoa que gosta de pensar as coisas pela própria cabeça. Ir para a faculdade de Direito foi uma coisa natural.

Meu pai era promotor de Justiça e a minha mãe, digamos, era da primeira safra de advogadas do Rio de Janeiro na década de 1950. Eles se conheceram na Faculdade Nacional de Direito. Uma mulher, fazendo curso superior, era pouco comum naquela época. O Direito era parte da minha casa, da minha vida cotidiana. Fui cursar Direito na UERJ e Administração-Economia na PUC. Fiz os dois vestibulares. Eu participava intensamente do movimento estudantil. Na segunda metade da década de 1970. Na PUC, as disciplinas eram Cálculo 1, Cálculo 2, Estatística 1, Estatística 2, Matemática financeira… Um dia descobri que não era feito daquele material, aquilo não me fazia feliz. Então, tranquei a faculdade de Economia, no quinto período, e me dediquei só ao Direito. Eu gostava muito de estudar e do movimento estudantil. Não era filiado a nenhum partido. Éramos todos de esquerda, naturalmente, mas a ideia de não ser pautado, de pensar pela própria cabeça, foi algo que despertou cedo em mim, atitude que é importante tanto para a cidadania como para o Direito”.