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Arquivos inéditos

Os arquivos inéditos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada em 1963 pelo Congresso Nacional para investigar o uso de recursos internacionais no financiamento de candidaturas de oposição ao então presidente da República João Goulart estão disponíveis para consulta na internet a partir de hoje (26).

O lançamento do projeto que torna pública a investigação do caso ocorreu nesta sexta-feira, no Recife, pela Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara. Além de disponibilizar toda a documentação na internet, a organização lançou o quinto caderno da Memória e da Verdade com o título Interferênca do Capital Estrangeiro nas Eleições do Brasil, onde compila os 17 volumes da CPI.

A investigação do Congresso Nacional tratou do financiamento, em escala nacional pelo Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad), de candidatos ao parlamento e ao governo de Pernambuco nas eleições de 1962, as últimas antes do golpe civil-militar de 1964. Apesar de não ser alvo da CPI, o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes) também foi apontado como financiador das campanhas de políticos de oposição à esquerda e a Goulart.

De acordo com a Comissão Estadual da Verdade, os recursos disponibilizados pelo Ibad – uma organização da sociedade civil – aos candidatos tinham origem nos Estados Unidos. “A atuação do Ibad e do Ipes era financiada por empresas multinacionais, coordenada pelo governo norteamericano”, afirma Henrique Mariano, secretário-geral da comissão. Os dirigentes da entidade, ainda de acordo com a comissão, trabalhavam como agentes da Agência Central de Inteligência (CIA).

O caderno traz ainda a tese de que o financiamento das campanhas fazia parte dos planos traçados para depor o então presidente da República, João Goulart, fato que se concretizou dois anos depois com o golpe. “O valor histórico desse documento também comprova que o golpe militar ocorrido em março de 1964 não foi um ato isolado, foi pensando, financiado, e a atuação desse grupo do Ibad vem desde 1961. Então, desde que houve a ascensão do presidente João Goulart esse golpe já estava sendo gestado por muitos segmentos”, defende Mariano.