Direito Global
blog

Ainda há juízes no Brasil

Do Defensor Público do Distrito Federal, André Soares em sua página no Facebook. O texto foi compartilhado pelo Promotor de Justiça do DF, professor Paulo Roberto Binicheski:

“Meu pai é juiz aposentado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT). Fiz direito. Advoguei. Fui oficial de justiça. Sou Defensor Público. Desde sempre estive próximo ao mundo jurídico. O que sempre me motivou foram as pequenas surpresas do dia-a-dia, aqueles momentos em que os operadores do direito deixam resplandecer o que de melhor existe na natureza humana, a capacidade de sentir empatia com o sofrimento do outro. Hoje, o Desembargador George Lopes Leite praticou um desses atos que inspiram.

Incentivei uma pessoa por quem tenho muito apreço e admiração a tentar falar com um Desembargador. Ela é parte em um processo. O usual é que não fosse atendida. Ela atendeu ao incentivo e foi ao TJDFT, um ambiente hostil para quem não é do mundo do direito. O Desembargador George Lopes Leite a atendeu. Não sei se vai conceder o que ela pede. Espero que conceda, pois sei o que é lidar com dor e com deficiência. Meu pai aposentou em 1992, após um AVC fortíssimo. Aposentou da magistratura aos 42 anos. Eu, com dores excruciantes provocadas pela sequela de uma doença, provavelmente serei aposentado na Defensoria Pública aos 44 anos. Sei o que é a dor.

Mas o importante não é se o Desembargador vai ou não conceder o que ela pleiteia. É a forma como ele a tratou. Foi extremamente humano, sensível e atencioso. O alívio que essa mãe sentiu ao expor o que sofre a quem vai decidir a vida da filha dela não tem preço. Ela se sentiu ouvida, se sentiu mais do que uma “exposição de fatos” em um processo judicial. Ela pôde perceber que a Justiça se importa com ela e com a filha.

Ao me relatar o encontro com o Desembargador George Lopes Leite, ela me disse, independente do resultado, ele me ouviu. Me tratou com respeito e educação. Não conheço o Desembargador George Lopes leite pessoalmente. Sei o que o meu pai me diz a respeito dele, quando trabalharam no Fórum de Sobradinho, que era uma pessoa de um grande coração. Uma pessoa boa.

Volto a dizer, o que ele decidirá é o que menos importa neste momento. O principal ele já fez…permitiu que a mãe de uma menina enferma, com dores excruciantes, chorasse e expusesse o sofrimento e a luta que enfrenta. Se todos os servidores públicos fizessem o que o Desembargador George Lopes Leite fez hoje, sem dúvida, teríamos um país muito melhor.

Resposta do desembargador George Lopes Leite, também no Face, ao ser informado por amigos do comentário do Defensor Público André Soares:

“Minha nossa! Há algo errado com o nosso País: o simples fato de um juiz abrir as portas do seu gabinete para ouvir o relato de uma mãe em busca de salvação para sua filha não deveria ser motivo de tanta louvação. Todo juiz deve fazer isso, afinal todos temos consciência desse dever fundamental de propiciar a qualquer cidadão o respeito ao seu direito! Nada fiz de excepcional, mas, mesmo assim, agradeço pelos elogios, relembrando a lição de Calamandrei: A Justica, como todas as divindades, só se manifesta perante aqueles que nele creem!”